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Futuro dos desfiles de moda devido à pandemia

A pandemia antecipou diversas tendências. Apesar de o assunto ser recorrente quando se fala em home office, ensino à distância e um maior convívio com a natureza, no mundo da moda várias delas também estão ocorrendo. E talvez uma das mais visíveis e significantes seja em relação ao futuro dos desfiles de moda.

A formatação original sempre movimentou um mercado megalomaníaco e multimilionário. No entanto, vários nomes expressivos já vinham há tempos questionando – e alguns abandonando, como Azzedine Alaïa, Raf Simons e, mais recentemente, Giorgio Armani – a forma tradicional dos desfiles de moda.

Hoje, em plena pandemia, o que até então era uma discussão ainda restrita a ambientes exclusivos se tornou uma necessidade. E tudo indica que as medidas tomadas agora deverão se tornar permanentes no novo normal, no mundo pós-pandemia.

Mas quais são os caminhos realmente mais prováveis para os desfiles de moda? Veja como a indústria está repensando a realidade e as transformações que deverão sofrer nesses eventos.

Por que os desfiles de moda precisam mudar?

A pandemia deflagrou uma mudança brusca com a necessidade de distanciamento social e o consequente cancelamento das semanas de moda, mas esse é um processo que já vem há algum tempo.

A urgência em criar novidades para eventos cada vez mais frequentes tem levado muitos criativos à estafa emocional e física. O estresse no trabalho tem feito com que nomes importantes do mundo da moda encabecem uma nova forma de pensar mudanças na cadeia de produção.

Por outro lado, a indústria da moda tem um papel significativo na saúde do planeta, sendo responsável por 10% da emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa e um consumo de água exorbitante.

Tudo isso sem falar no acúmulo de lixo causado pelos resíduos têxteis: cerca de 500 mil toneladas de microfibra por ano e algo em torno de US$ 500 bilhões por ano com o descarte de roupas que não foram vendidas por marcas de luxo que não abrem mão de oferecer apenas produtos exclusivos.

Ao mesmo tempo, o consumo consciente, que já ganhava cada vez mais forma, se torna ainda mais presente durante a pandemia.

Com isso, o ritmo frenético de quatro a seis desfiles de moda com novas coleções por ano e o não reaproveitamento de peças não comercializadas está se mostrando uma forma ultrapassada de pensar o mundo fashion.

Passarelas online são alternativa

Com o adiamento dos desfiles de moda presenciais a tecnologia é a alternativa. Antes mesmo de chegar ao Ocidente, a passarela virtual já havia começado a ser utilizada como solução na Ásia.

Ainda em março, quando o resto do mundo apenas começava a conhecer o novo coronavírus mais de perto, a Shangai Fashion Week inovou com seus desfiles de moda totalmente online.

O resultado foi um alcance muito maior: um público estimado em 2,5 milhões de pessoas gerou nada menos que 800 mil compras no e-commerce, onde as peças ficaram disponíveis logo após os desfiles de moda ao vivo.

Entre os dias 12 e 14 de junho foi a vez da London Fashion Week, um evento totalmente digital e inovador – inclusive com a junção dos desfiles de moda femininos e masculinos, que antes ocorriam separadamente.

Entre as catwalk, exposições, lives, documentários, playlists, conteúdos multimídias, espaços para compras e muito mais, o evento já se tornou um marco na superação da crise do coronavírus no mundo da moda.

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Coleções ‘ready-to-wear’ são tendência

A plataforma on demand, com conteúdos variados para cada marca, mostrou uma programação que não se prendeu a uma temporada específica.

Essa tendência, aliás, já havia sido encabeçada pelo belga Dries Van Noten e várias marcas importantes e lojas de departamento, que juntas através do Zoom já haviam divulgado uma carta aberta pedindo o realinhamento das coleções e o respeito às estações.

Isso já acontecia por aqui, onde as coleções desfiladas são read-to-wear (prontas para usar), sem estações trocadas como acontece na Europa: os desfiles brasileiros de verão, por exemplo, já ocorriam com peças de verão.

Por fim, vale lembrar que, a princípio, adiadas para setembro, também a 080 Barcelona Fashion (de 14 a 17) e a Valmont Bridal Fashion Week já anunciaram que também terão apenas edições exclusivamente digitais.

Oportunidade para mudar e crescer

Para muitos criativos essa é, finalmente, uma oportunidade para o mundo fashion mudar e crescer ainda mais, só que de uma forma sustentável.

O viés colaborativo se torna cada vez mais forte, e não só em relação aos desfiles de moda das grandes semanas. A ideia é usar as plataformas como vitrines ainda mais interativas de marcas e lojas.

Para a CEO da Bristish Fashion Council, Caroline Rush, por exemplo, o mundo da moda precisa refletir mais profundamente sobre a sua influência na própria sociedade, na identidade e na cultura, criando produtos sustentáveis que sejam valorizados e respeitados.

Assim, se por um lado as plataformas para desfiles de moda e eventos online refletem uma maior democratização, por outro também são amigas do planeta.

Os eventos online demandam menos movimentação de pessoas ao redor do mundo, o que colabora para a geração de menos lixo nas cidades sedes das fashion weeks, menos gastos e descartes com convites, materiais impressos e cenários de luxo, por exemplo.

Instagram lidera corrida pelas empresas de moda

Nesse contexto dos desfiles de moda online, é preciso que as marcas se atentem para não perder oportunidades importantes. O Instagram, por exemplo, se antecipou, despertando o interesse dos criativos.

Eva Chen, vice-presidente de parceria de moda do Instagram, criou um guia com as opões disponíveis no aplicativo para as marcas.

Entre as oportunidades estão desde a hospedagem de desfiles de moda a dicas de entrevistas backstage passando por estratégias para atrair mais público para as transmissões.

O propósito por trás do guia é oferecer ideias que se adaptem à abordagem de cada empresa. A meta agora é criar ferramentas que destaquem ainda mais os desfiles de moda no feed do aplicativo.

A própria estratégia do Instagram é ainda mais ampla. O guia chegou pouco após Mark Zuckerberg anunciar novos recursos para incrementar o e-commerce pelo app, melhorando ainda mais a experiência das empresas de moda.

Youtube e Tik Tok também estão na disputa

Apesar de o Instagram aparentemente estar na liderança dessa corrida pelas empresas de moda, o aplicativo não é o único investindo no nicho.

Sob a batuta de Derek Blasberg à frente das parcerias de moda e beleza, o YouTube também está investindo alto nos desfiles de moda.

Carine Roitfield inaugurou o nicho mais recente da plataforma organizando um desfile de moda especial em maio para apoiar a pesquisa médica e a luta contra a Covid-19

Até o app queridinho da geração Z e segundo mais baixado do mundo, com 11 milhões de downloads só em março, o Tik Tok já começa a ameaçar a liderança do Instagram. O número de marcas marcando presença na rede social é cada vez maior, gerando um engajamento significativo entre seu público alvo.

Com tantas inovações, a tendência, portanto, é que os desfiles de moda percam cada vez mais sua formatação original para se transformarem em ações estratégicas nas redes sociais, com cada marca criando seu próprio cronograma de ações.

É o caso de criativos como Alessandro Michele, da Gucci, Saint Laurent, Giorgio Armani e Valentino, que já anunciaram a saída do cronograma tradicional para criar suas próprias agendas com projetos especiais.

É a moda se reinventando, mais uma vez, para acompanhar o novo normal do mundo pós-pandemia.

Quer saber mais tendências do mundo fashion e dos desfiles de moda? Continue acompanhando o Blog da Haco e receba novidades e dicas todas as semanas!

Efeito Tie Dye: das passarelas ao do it yourself

Apesar de ter ganhado força durante o movimento hippie americano entre as décadas de 60 e 70, o efeito tie dye — que na tradução literal significa “amarrar e tingir” — teve origem há muito mais tempo.

A técnica de tingimento possui registros entre os séculos VI e IX em países africanos, asiáticos e latinos.

Conforme a cultura da região onde é feito, o tie dye pode apresentar efeitos distintos.

De acordo com a forma de torção, dobra e amarração dos tecidos, o tie dye feito na Índia terá um visual diferente de um feito no Japão, por exemplo.

Efeito Tie Dye: das passarelas ao do it yourself | Haco

Fonte: WGSN

Outra curiosidade interessante é que, justamente pela sua forma irregular e “incontrolável” sobre o tecido, o tie dye tornou-se um símbolo da liberdade de expressão, forte premissa do movimento hippie.

Efeito Tie Dye: das passarelas ao do it yourself | Haco

Fonte: WGSN / GETTY IMAGES

Após esta fase, teve um retorno expressivo na década de 90, por meio do movimento punk. Menos colorido e com visual mais agressivo, em peças jeans e estonadas, a versão repaginada da técnica começou a chegar então às passarelas de grandes marcas.

A volta do Tie Dye e sua ascendência durante o isolamento social

Podemos observar o retorno intenso do tie dye em 2020. O gráfico abaixo, extraído do Google Trends, aponta o volume de pesquisas realizadas no Google pelo termo “tie dye”, no Brasil, nos últimos 12 meses.

Note que a curva começa a subir no final de abril/início de maio, e vem crescendo exponencialmente desde então:

Efeito Tie Dye: das passarelas ao do it yourself | Haco

Fonte: Google Trends (pesquisa realizada em 22/07/2020)

Das passarelas ao “do it yourself“, o tie dye vem dominando o cenário, inspirando desde estilistas até os consumidores finais, que querem por a mão na massa e personalizar suas próprias peças de roupas.

As roupas ganham mais cor, vida e personalidade

T-shirts, moletons, acessórios e até maquiagens e nail arts ganham cor e vida através da técnica, que traz também um forte apelo artesanal.

O período do isolamento social despertou o sentimento de reinvenção nas pessoas. De dentro de suas casas, os consumidores estão em um momento de explorar tarefas manuais, reaproveitar o que já tem no guarda-roupa e trazer uma nova cara para suas peças.

Neste anseio do “faça você mesmo”, as pessoas procuram também por recursos naturais de tingimento — como açafrão, repolho, hibisco, entre outros.

Efeito Tie Dye: das passarelas ao do it yourself | Haco

Fonte: Instagram (@hayleyhaspel)

A diferença destes tingimentos para os industrializados, é que eles ficam mais leves e sutis – traduzindo outro sentimento do atual consumidor: a necessidade da calma, do respiro, da conexão com a natureza e a desaceleração.

E o tie dye se encaixa de forma perfeita neste desejo. Pois é simples, sem preocupações com a perfeição, mas cheio de personalidade!

Aproveitando este comportamento, grifes e lojas de departamento também estão trazendo suas versões de tie dye, explorando este símbolo de liberdade, criatividade e até da luta social que vivemos no atual contexto político.

Efeito Tie Dye: das passarelas ao do it yourself | Haco

Fonte: WGSN

Feito em casa, de forma natural, ou da sua marca preferida – o tie dye está por todos os lados. Como expressão de moda, recarrega as nossas energias para passarmos por esta fase sem perdermos a capacidade de criação e imaginação. O que, no final das contas, nos move.

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